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Países onde mais mulheres estão no governo têm menos corrupção, diz estudo

Formulação de políticas públicas diferentes é o que faz mulheres terem impacto sobre a corrupção.

Por Tatiana Regadas, G1

Senadora australiana Larissa Waters amamenta seu bebê no Parlamento em Camberra: políticas escolhidas por mulheres contribuem para governos menos corruptos (Foto: AAP/Mick Tsikas/via REUTERS )

Em uma análise entre mais de 125 países, incluindo o Brasil, um estudo descobriu que a corrupção é menor onde mais mulheres participam do governo.

Publicado no “Journal of Economic Behavior & Organization” pelos pesquisadores Chandan Jha e Sudipta Sarangi, o estudo revela ainda que a representação das mulheres na política local também é importante. Na política local da Europa, por exemplo, a probabilidade de suborno é menor nas regiões com maior representação de mulheres.

“Esta pesquisa ressalta a importância do empoderamento das mulheres, sua presença em cargos de liderança e sua representação no governo”, disse Sarangi, professor de economia e chefe de departamento da Virginia Tech, nos EUA.

“Isso é especialmente importante porque as mulheres continuam sub-representadas na política. Na maioria dos países, incluindo os Estados Unidos “.

No Brasil, a lei em vigor atualmente prevê que pelo menos 30% dos candidatos devem ser do sexo feminino. Em 2016, contudo, as mulheres representaram 86% dos 18,5 mil candidatos que não receberam voto- segundo especialistas, a lei incentivaria “candidaturas laranjas”, de candidatas registradas apenas para cumprir a cota.

A pesquisa de Jha e Sarangi é o estudo mais abrangente sobre esse tópico e examina as implicações da presença de mulheres em outras ocupações, incluindo a participação de mulheres na força de trabalho, cargos administrativos e cargos de tomada de decisão, como os CEOs.

O estudo concluiu que é na formulação de novas políticas que as mulheres podem ter um impacto sobre a corrupção.

“Isso pode dever-se ao fato de que mulheres formuladoras de políticas tendem a favorecer políticas que melhoram coisas como a provisão de bens públicos, saúde, educação e bem-estar infantil”.

Ou seja, esses resultados não significam necessariamente que as mulheres sejam inerentemente menos corruptas que os homens.

“Nosso estudo sugere que a política é uma área onde a igualdade é importante na medida em que pode ajudar a reduzir a corrupção”, explica Sarangi, em entrevista ao G1.

Metodologia

O estudo usa uma técnica estatística, conhecida como análise de variáveis instrumentais, para estabelecer a causalidade na relação entre mulheres e corrupção, já que não se pode afirmar que geneticamente as mulheres são menos ou igualmente corruptas que os homens.

Pode-se acreditar que a relação entre gênero e corrupção tende a desaparecer à medida que as mulheres ganham igualdade no status social. Isto aconteceria porque, conforme o status das mulheres melhora, elas poderiam obter acesso às redes de corrupção e, ao mesmo tempo, aprenderiam a se engajar em atividades corruptas. Mas o estudo indica justamente o contrário.

Quanto maior a igualdade de status dos países em que há mais mulheres no governo, menor é o nível de corrupção.

O estudo sugere que são as políticas formuladas por mulheres que geram impacto na corrupção: “Descobrimos que os países onde as mulheres têm status social semelhante ao dos homens – por exemplo, em países mais desenvolvidos, eles ainda reduzem a corrupção e não a aumentam. Portanto, fazemos essa afirmação. É porque buscam políticas diferentes”, diz Sarandi.

“Isso porque, mesmo nesses países, mais mulheres na força de trabalho, ou em cargo administrativo ou gerencial, não reduzem a corrupção. Só tem impacto quando estão presentes no parlamento”.

As implicações políticas do estudo apontam para a necessidade de promover a igualdade de gênero em geral e, em especial, promover a presença de mulheres na política . Pesquisas anteriores estabeleceram que uma maior presença de mulheres no governo também está associada a melhores resultados de educação e saúde.

O estudo analisou dados de 150 países, dentre eles o Brasil, e escolheu os países que tinham os dados necessários para o estudo para que não houvesse parcialidade na escolha.

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