Conhecidos ou nem tanto no Brasil, jogadores montam “colônia” paraense em Portugal
O choro antes de entrar em campo no triunfo por 3 a 0 sobre o Rio Ave, em abril, em nada demonstra um arrependimento de Welthon em ter deixado o Brasil rumo a Portugal. Ali foi a emoção de voltar a pisar no gramado depois de um longo período lesionado, que atrapalhou o começo de sua trajetória no Vitória de Guimarães.
– Não foi frustração, mas uma emoção por ter voltado a jogar depois de muito tempo longe, parado por lesão – relembra.
A ruptura total do músculo posterior da coxa esquerda deixou o atacante fora por vários meses da segunda metade da última temporada. Este ano, uma lesão voltou a atrapalhar, e o paraense ainda busca o seu melhor futebol no clube que defende desde janeiro, após os 20 gols marcados nos quase 18 meses no Paços Ferreira.
Enquanto isso, fora de campo, a adaptação ao país lusitano não teve grandes dificuldades, mesmo porque ele está cercado de conterrâneos. O mais próximo é o zagueiro Raul Silva, que, assim como o atacante, jogou em Remo e Paysandu no Pará.
Welthon mora em Guimarães, distante apenas 25 km de Braga, onde está o defensor. A rotina de treinos e jogos nem sempre é tranquila, mas uma brecha no calendário geralmente é pretexto para o encontro dos papa-chibé.
– Alguns (jogadores paraenses) moram longe, em outras cidades, e dificulta um pouco ficar na resenha. Mas a gente tem contato com todos. Falo mais com o Sandro Lima, que está no Estoril, e com o Raul, do Braga. Pelo fato de todos morarem em lugares diferentes é meio difícil marcar para sair e se encontrar. Mas, quando dá, a gente sempre procura marcar um almoço ou jantar para resenhar e colocar o papo em dia – explica o atacante.
Hoje com 26 anos, Welthon recentemente passou dois meses longe dos gramados por conta de uma entorse no tornozelo esquerdo. Por isso soma apenas sete jogos na atual temporada. Três deles após a lesão, sempre entrando nos minutos finais.
No período que ficou sem poder entrar em campo recebeu visitas de parentes e amigos, que, sempre de podiam, levavam o tradicional “isopor” com açaí e farinha, alimentos típicos do Pará. Mas o estoque era privado: nada de dividir com outros colegas conterrâneos.
– Tá maluco? Quando chega açaí e farinha a gente não avisa nada, papai. É guardar escondido (risos) – brinca.
No caso de Raul Silva, a comida de casa também é o que mais faz falta no velho continente. O restante da adaptação foi, segundo ele, sem maiores perrengues, pois foi bem acolhido pelo povo local.
– A gente sente muita falta da família, dos amigos e da nossa comida, que é única. Nosso açaí é sagrado. Um vatapá e uma maniçoba fazem falta também. Mas somos muito bem recebidos aqui. Acredito que, no fundo, a gente que deve se adaptar ao jeito deles. Depois que entendemos, aí fica tudo mais fácil. É um povo do bem. Nunca tive problema. O que acabei sentindo foi a arbitragem daqui, pois no Brasil se permite um jogo mais duro, mas hoje já estou totalmente adaptado – ressalta o zagueiro.
Além de Welthon e Raul, outros sete paraenses se aventuram pelas principais divisões do futebol lusitano. Também na elite de Portugal estão o zagueiro Pablo Santos, do Braga, e o lateral-direito Kalindi Souza, formado na base da Tuna e que hoje atua no Nacional da Ilha da Madeira.
Na “Série B” jogam o volante Christian Fiel, que nos tempos de Tuna Luso e Ananindeua era conhecido como “Japonês”. Ele é primo de Welthon e está no Paços Ferreira, atual líder da Segundona. Sandro Lima, atacante do Estoril, está na “terrinha” desde 2013 e já passou por Rio Ave, Chaves e Acadêmicos de Viseu depois de deixar o Independente Tucuruí.
A competição equivalente à terceira divisão do país conta com dois atacantes ex-Remo. Marcelo teve poucas oportunidades no Leão no ano passado e agora defende o Fafe, enquanto João Victor está no Mirandela. Há menos tempo em Portugal – apenas quatro meses – o centroavante ainda vive o processo de adaptação à cultura e à língua locais.
– São poucas coisas que mudam do nosso país. Tem uma certa dificuldade em certas palavras e pelo sotaque, o que é natural, mas isso se resolve rápido. Basta falar com amigos ou pedir socorro para a internet (risos). Como estou há pouco tempo aqui, não tive alguém próximo pra pedir pra trazer alguma coisa, mas sinto muito falta da família e da comida típica do nosso estado. É a melhor, não há outra igual – conta João Victor.
Paraenses nas principais competições de Portugal na atual temporada
Primeira Divisão
Kalindi Souza (lateral-direito), 25 anos – Nacional da Ilha da Madeira
Está em Portugal desde 2015. Tem dez jogos e um gol na atual temporada. Também já jogou no Penafiel.
Pablo Santos (zagueiro), 26 anos – Braga
Formado no Paysandu, chegou ao país no meio de 2017 e rapidamente ganhou a titularidade no Marítimo. Foram 25 jogos e um gol. Nesta temporada foi comprado pelo Braga. Já fez 13 partidas (12 como titular) e balançou as redes duas vezes.
Raul Silva (zagueiro), 29 anos – Braga
Formado no Remo e com passagens por Criciúma, Sport, Figueirense, Ceará e Paysandu no Brasil, desembarcou em Portugal em 2014. Passou três temporadas no Marítimo e está em sua segunda no Braga. Ao todo tem 47 jogos e 9 gols pelos arsenalistas.
Welthon (atacante), 26 anos – Vitória de Guimarães
Passou pelo pelo Braga na temporada 2013/2014, mas depois retornou ao Pará para jogar por Tapajós, Independente Tucuruí e Remo. Em 2016 voltou à Europa para jogar pelo Paços Ferreira. Em uma temporada e meia nos auriverdes fez 49 jogos e 20 gols. Hoje no Vitória, tem multa contratual no valor de 30 milhões de euros.
Segunda Divisão
Christian Fiel (volante), 29 anos – Paços Ferreira
Não ganhou muita expressão jogando no Pará, onde acumula passagens por Tuna, Carajás, Castanhal e Ananindeua. Foi para a Europa em 2013 e jogou em Apoel (Chipre) e Cluj (Romênia) antes de chegar a Portugal, onde tem alternado temporadas em Nacional (2014/2015 e 2017/2018) e Paços Ferreira (2015/2016, 2016/2017 e 2018/2019).
Sandro Lima (atacante), 28 anos – Estoril Praia
Independente Tucuruí e Grêmio Anápolis foram seus últimos clubes no Brasil antes de chegar ao país, em 2013, para atuar no Rio Ave. Também já passou por Acadêmicos de Viseu e Chaves até chegar em julho ao Estoril Praia, onde já tem 17 jogos e 4 gols. Seus melhores números até aqui foram no Viseu: 115 jogos e 31 gols.
Terceira Divisão
João Victor (atacante), 24 anos – Mirandela
Chegou ao Remo em 2015 e, apesar de boas atuações, não se firmou no clube. Passou por Castanhal, Tuna, CSA e América-RN antes de desembarcar em terras lusas nesta temporada. Já acumula dois gols em dez partidas.
Marcelo (atacante), 23 anos – Fafe
Paraense de Ananindeua, fez testes nas bases de Cruzeiro e Corinthians no Brasil. Ficou conhecido em sua terra natal ao jogar pelo Remo no ano passado, mas teve poucas oportunidades. Entrou apenas em duas partidas do estadual. Chegou ao Fafe no segundo semestre desse ano e atuou em quatro partidas.
AF Aveiro – Divisão Elite
Paulo Wanzeler (goleiro), 30 anos – Vista Alegre
Tem currículo muito extenso no Brasil. Só no Pará foram nove clubes (Carajás, Paysandu, Tuna, Paragominas, Bragantino, São Francisco, Águia de Marabá, Pinheirense e Sport Belém). Em 2016 chegou a jogar no Atlético Veja Real, da República Dominicana, e agora tem sua primeira experiência na Europa. O Vista Alegre disputa a AF Aveiro, uma liga regional do distrito que fica na região norte de Portugal.
(Globo Esporte)
