Chuvas causam deslizamentos e deixam ao menos 23 mortos em SP
Há 500 famílias desalojadas em todo o estado, segundo o governo
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As fortes chuvas que atingem São Paulo desde a noite de sexta-feira (28) causaram deslizamentos de terra, transbordamento de rios e córregos, deixaram cidades alagadas, rodovias interditadas e ao menos 23 mortos. Há 500 famílias desalojadas em todo o estado, segundo o governo.
De acordo com o governo e prefeituras, desde sexta foram registradas oito mortes em Franco da Rocha, quatro em Francisco Morato, três em Embu das Artes, uma em Arujá (todas na Grande SP), cinco mortes em Várzea Paulista (54 km de SP), uma em Jaú (287 km de SP) e uma em Ribeirão Preto (313 km de SP).
Em Franco da Rocha, sete corpos foram resgatados de um deslizamento na rua São Carlos e uma oitava vítima morreu no hospital.
“Até o momento, 15 moradias foram atingidas e seis pessoas foram resgatadas com vida. Ainda não há o registro do número de desaparecidos”, afirmou a Prefeitura de Franco da Rocha, em nota.
Segundo o governador João Doria (PSDB), que sobrevoou a região, até as 16h havia quatro desaparecidos em Franco da Rocha. “A Defesa Civil ficará aqui o tempo que for necessário”, afirmou o tucano, em entrevista coletiva.
A cidade, que decretou situação de emergência, teve diversos pontos de deslizamento de terra. Moradores registraram em vídeo o momento em que uma encosta cede e a força da lama arrasta árvores. Segundo a prefeitura, três casas foram atingidas.
Os rios Juquery e o Ribeirão Eusébio transbordaram e os dois lados da cidade estão inundados. Segundo a Defesa Civil estadual, houve um acumulado de chuva de 198 mm em Franco da Rocha desde sexta-feira até a tarde deste domingo.
Segundo a prefeitura, a média histórica de janeiro para o município é de 271 mm. “Choveu cerca de 42% do esperado para todo o mês de janeiro em apenas 12 horas”, disse a prefeitura em nota. Segundo a administração municipal, choveu 160mm em 12 horas.
A represa Paiva Castro atingiu 71,2% de sua capacidade no meio da tarde deste domingo e provocou “alerta máximo”, segundo a prefeitura, que junto com a Sabesp está fazendo o bombeamento da água e manobras para evitar abertura de comportas.
Segundo a Sabesp, houve aumento na retirada de água para a estação de tratamento do Guaraú para reduzir o volume de água da represa.
Os deslizamentos fizeram com que o estudante Felipe Lima, 31, anos se juntasse a um grupo de voluntários que se reuniram para ajudar as vítimas das enchentes na cidade. O grupo recebe doações, mobiliza pessoas por meio das redes sociais e realiza atendimentos médicos com profissionais da saúde que se disponibilizam a atender as vítimas gratuitamente.
Lima vive próximo ao local dos deslizamentos e viu amigos e conhecidos perderem suas casas. “São pessoas que convivem conosco no futebol, no posto de saúde, no supermercado, não são pessoas desconhecidas. Então isso termina machucando muito a gente, é como se fosse um parente nosso”, diz o estudante.
O professor de artes James da Silva Barros, 22, ficou ilhado em sua residência. Apesar dos planos para o domingo, Barros não tinha como sair de seu bairro pois todas as ruas estavam tomadas pela água. Por morar em uma região alta de Franco da Rocha, sua casa não foi atingida.
“A gente não consegue sair do bairro praticamente, está tudo alagado. A única saída que temos para chegar na estação [de trem] de Franco está horrível de alagada. Sem contar que estamos sem energia”, afirmou.
As ruas centrais continuavam alagadas por volta das 19h30 deste domingo. O prédio da prefeitura, a Câmara de Vereadores, o fórum e três delegacias ficaram inundados.
Em Várzea Paulista, cinco pessoas de uma mesma família morreram após a casa em que moravam ser atingida por um deslizamento de terra, por volta das 8h deste domingo (30). Segundo a prefeitura, as vítimas são um homem de 41 anos, a esposa, de 30, e os três filhos do casal – um menino de 12 anos e duas meninas, de 10 e 1 ano.
Em Embu das Artes, um deslizamento de terra deixou três mortos na madrugada deste domingo. Segundo o Corpo de Bombeiros, as vítimas foram uma mulher de 45 anos e seus dois filhos -um homem de 21 anos e uma menina de 4.
Antes da chegada dos bombeiros ao local do deslizamento, outras quatro pessoas já haviam sido retiradas dos escombros pela população local. Todos residiam na mesma residência, localizada na rua Jatobá.
Em nota, a Prefeitura de Embu das Artes afirmou que o acidente atingiu duas casas -uma delas estava vazia e a outra onde estavam as vítimas. A prefeitura também diz que “foram interditadas 16 casas, mas algumas famílias insistem em retornar ao local de risco”.
Em Francisco Morato, três crianças e um adulto morreram em dois soterramentos nos bairros Jardim Arpoador e Recanto Feliz.
A chuva ainda provocou a interdição da linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) neste domingo. Os trens não circulam entre as estações Caieiras e Francisco Morato. A empresa precisou acionar o sistema Paese para atender passageiros com ônibus gratuitos.
A rodovia Anhanguera, principal ligação entre a capital e o interior do estado, chegou a ser totalmente interditada no km 30, em Cajamar, na Grande SP. A liberação da última pista ocorreu às 15h22, segundo a concessionária CCR AutoBan.
Segundo o governo do estado, serão liberados R$ 15 milhões para dez municípios mais prejudicados pelas chuvas.
“Os recursos anunciados serão destinados aos municípios de Arujá (R$ 1 milhão), Francisco Morato (R$ 2 milhões), Embu das Artes (R$ 1 milhão) e Franco da Rocha (R$ 5 milhões), na Região Metropolitana de São Paulo, e Várzea Paulista (R$ 1 milhão), Campo Limpo Paulista (R$ 1 milhão), Jaú (R$ 1 milhão), Capivari (R$ 1 milhão), Montemor (R$ 1 milhão) e Rafard (R$ 1 milhão), no interior do Estado”, diz tercho de nota enviada pela gestão estadual.
Em entrevista coletiva em Franco da Rocha, Doria cobrou ajuda federal. “O governo federal tem responsabilidade também e deve ser solidário, tem obrigação de oferecer apoio, não apenas com manifestações, mas com recursos e equipes.
INTERIOR
Algumas cidades do interior de São Paulo também contabilizam os estragos causados pelas chuvas. Em Bauru (366 km de SP), a enxurrada abriu uma cratera na avenida Rodrigues Alves, perto da saída para a rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, interditando os dois sentidos.
Em Jaú, o grande volume de água fez o rio Jaú transbordar em vários pontos da cidade, afetando serviços de saúde e o centro de testagem contra Covid-19, localizado no ginásio de esportes Dr. Flávio de Mello. O atendimento nestes locais está suspenso nesta segunda-feira (31).
Segundo a prefeitura, a testagem contra a Covid-19 será transferida para o pronto atendimento do antigo Hospital São Judas, nesta segunda, para que o ginásio passe por limpeza e desinfecção.
O município de Jaú decretou situação de emergência. Assim, ficam autorizadas contratações para fornecimento de bens ou serviços mediante dispensa de licitação, disse a prefeitura.
A cidade de Capivari (137 km de SP) também decretou situação de emergência após o rio Capivari extravasar e inundar ruas e avenidas. Segundo a prefeitura, por volta das 16h de domingo o rio atingiu o nível de 3,58 metros -o transbordamento ocorre a partir da marca de 2 metros.
Conforme o balanço oficial, cerca 500 casas foram atingidas pelas enchentes, deixando 400 pessoas desabrigadas.
A Prefeitura de Piracicaba (160 km de SP) informou que o rio Piracicaba transbordou em pelo menos um ponto. Há risco de novos alagamentos.
A Rodovia Raposo Tavares também chegou a ser totalmente interditada no km 631 em Presidente Cauiá por causa do rompimento de uma barragem, segundo a Polícia Militar Rodoviária.