Maternidade entre mulheres muito jovens é de 14,3% no Pará, aponta IBGE
Subnotificação de casos, quase quatro vezes maior que média nacional, também é desafio no Estado
Na Região Norte e no Pará, os índices de gravidez na adolescência estão acima da média nacional. Em 2020, no Brasil, 9,38% das crianças registradas eram de mães menores de 18 anos. No Norte esse percentual é de 14,01%, sendo que o Pará tem índice de 14,38%, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Brasil, de acordo com o IBGE, a tendência brasileira é de gravidez após os 30 anos, e o sub-registro de nascimentos relacionados a mães muito jovens no Pará é outro desafio: enquanto os números do Brasil apontam que foram estimados em 2,11% para o ano de 2019, no Pará os sub-registros representam 8,17% de incidência, e em alguns municípios esse percentual é ainda mais alto.
A analista do IBGE, Norma Bentes, coordena a pesquisa Registro Civil e ressalta que a coleta de informações relativas à idade da mãe na ocasião do parto é importante para os estudos demográficos. Apesar de o Pará liderar o ranking do Brasil, ela aponta que ao se aproximar mais dos 20 anos, esse número tende a cair, já que o cenário ideal seria a gravidez acima dos 21 anos, na categoria de mães jovens.
“A partir dos nascimentos, segundo o grupo etário da mãe e da população de mulheres de cada um desses grupos, é possível realizar estudos sobre o comportamento reprodutivo das mulheres, e assim, junto com os demais indicadores demográficos, acompanhar as transformações na estrutura etária do país”, explicou.
Comparando o cenário brasileiro e destacando a região Norte e o Pará, Norma associa a inserção no mercado de trabalho, acesso a formas de contracepção, como elementos que ajudam a entender a mudança de comportamento e a gravidez acima dos 30 anos. Já a gravidez na adolescência, ela afirma que é uma situação presente na Amazônia e no Estado do Pará. “Dados da Pesquisa Estatísticas de Registro Civil do IBGE em todos os Cartórios do país desde 1974, demonstra que, a Região Norte e o Pará estão acima da média nacional nesse tipo de ocorrência”, comentou.
“É uma região ainda com traços rurais. A inserção da mulher no mercado de trabalho vem crescendo em ritmo menos acelerado que nas demais regiões. As condições socioeconômicas regionais também contribuem para esse quadro, na medida que se tem menos acesso a políticas educacionais e de saúde, e adequadas condições de vida, além da existência de contextos de violência”, completou.
Primeiro dia das mães
Cibele Vieira, 14 anos, mora em Paragominas, mas veio a Belém para Consulta na Santa Casa de Misericórdia e teve uma menina, antes do dia das mães. Ela conta que a bebê nasceu prematura e que precisou vir às pressas, devido às dores e na maternidade, a bolsa estourou.
A adolescente diz que está feliz com a primeira filha, que junto do namorado irão registrar a criança somente quando chegarem em Paragominas. Apesar de estar contente, Cibele revela que a gravidez não foi planejada e que descobriu somente após três meses. “Minha gestação foi tudo bem, tranquila. Mas a gravidez foi uma surpresa. Eu vim saber muito tempo depois, uns três meses depois, porque minha barriga era pequena e a minha mãe foi quem percebeu.
Questionada sobre a importância do registro de nascimento, a mãe de primeira viagem diz que ainda está descobrindo, mas sabe que vai registrar a filha. “Eu não sei explicar qual a importância do documento de registro [No momento, a jovem recebe a orientação e entende a importância]. Ah, sim, é muito importante, dá acesso a serviços, escola”, declarou.
Os planos de Cibele estão voltados a cuidar da filha, com o companheiro e focar nos estudos. “Eu já me sinto uma mãe, é ótimo. Ela é uma fofa [referindo-se a bebê]. Mas eu prefiro agora dar um tempo, estudar e, talvez no futuro, ter um menino. Mas bem no futuro mesmo”, finalizou.
(O Liberal)