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Recuperação de pastagens deve priorizar áreas perto de frigoríficos na Amazônia

Essa é a conclusão de estudo do projeto Amazônia 2030 sobre pastagem degradada

O plano ambicioso do governo federal de recuperar 40 milhões de hectares de pastos degradados no Brasil deveria priorizar áreas próximas aos frigoríficos, indica estudo do projeto Amazônia 2030, que traça estratégias socioeconômicas para o bioma. Os pesquisadores afirmam que pecuaristas próximos geograficamente da indústria são mais propensos a adotar tecnologias que aumentam a produtividade do rebanho e, consequentemente, liberam áreas para outros fins.

O plano ambicioso do governo federal de recuperar 40 milhões de hectares de pastos degradados no Brasil deveria priorizar áreas próximas aos frigoríficos, indica estudo do projeto Amazônia 2030, que traça estratégias socioeconômicas para o bioma. Os pesquisadores afirmam que pecuaristas próximos geograficamente da indústria são mais propensos a adotar tecnologias que aumentam a produtividade do rebanho e, consequentemente, liberam áreas para outros fins.

Apenas a Amazônia Legal já tem 40 milhões de hectares de pasto com algum grau de degradação, área duas vezes maior que a do Estado do Paraná. No entanto, os pesquisadores concluíram que 25 milhões de hectares bastariam para suprir a demanda por carne em 2030 caso os pecuaristas triplicassem a produtividade do rebanho.

“Não existe demanda para reformar todo esse pasto [40 milhões de hectares] no curto prazo, nem no longo. Então, fomos olhar que área seria necessária se tivéssemos uma boa produtividade”, afirma o engenheiro florestal Paulo Barreto, coordenador da pesquisa, em entrevista ao Valor. Para ele, o Brasil não deveria apoiar seu planejamento nos US$ 120 bilhões que o governo ainda quer captar. “Já tem muito dinheiro, mas no que o dinheiro está sendo usado é o elemento-chave”.

As tecnologias que estão disponíveis ao pecuarista hoje poderiam aumentar a produtividade média do gado bovino de 80 quilos de carne para 300 quilos de carne por hectare no ano, diz a equipe formada por Paulo Barreto, Ritaumaria Pereira e Arthur Rocha. Assim, pastagens abertas em um raio de 60 quilômetros de frigoríficos estabelecidos na Amazônia Legal seriam suficientes para atender a necessidade dos consumidores.

Segundo os pesquisadores, a vantagem das fazendas localizadas em zonas próximas aos frigoríficos são os custos geralmente menores para a aquisição de insumos e o acesso a serviços como educação e assistência técnica.

O aumento da produtividade da pecuária é imperioso para lidar com o desmatamento a médio e longo prazo, enquanto que, no presente, o combate direto aos criminosos pode frear a abertura de novas áreas, diz Barreto.

Na visão do pesquisador, o poder público foi condescendente com o desflorestamento no passado, com medidas como a regularização de terras ocupadas ilegalmente, o que incentiva o desmatamento especulativo e desestimula a manutenção e melhoria dos pastos. “A primeira coisa é combater o desmatamento diretamente, senão sempre vai sobrar terra e vai continuar ‘valendo a pena’ para o pecuarista pouco eficiente”, diz.

De acordo com o estudo, dos cerca de R$ 10 bilhões em crédito rural subsidiado que vão para pecuaristas da Amazônia Legal, a maior parte vai para compra de gado, e uma fração pequena é usada para reformar as pastagens. Seria possível recuperar três milhões de hectares degradados por ano com o montante de R$ 10 bilhões.

Hoje, o custo para levar infraestrutura até as fazendas — desde estradas até acesso à internet — é um impeditivo à adoção de tecnologia nos rincões do país. Diante disso, a estratégia de até 60 quilômetros dos frigoríficos também teria impacto positivo, reduzindo de 3,9 milhões para 1,4 milhão de quilômetros de estradas e ramais a serem melhorados, diz o estudo.

Outra medida importante para estimular a pecuária sustentável seria o reajuste do Imposto Territorial Rural (ITR), que ainda hoje é calculado a partir de dados do Censo Agropecuário de 1975, segundo Barreto. Na prática, quanto maior o grau de utilização da terra, menor é a alíquota paga. Mas o ITR hoje considera como área produtiva aquela com lotação de 0,15 a 0,5 cabeça de gado por hectare, números que ficam até seis vezes abaixo do potencial nos principais polos pecuários da Amazônia, abrindo espaço a criadores pouco eficientes.

“O segundo governo Lula prometeu que ia fazer essa atualização, mas não conseguiu”, afirma Barreto, atribuindo o problema à pressão de latifundiários.

Uma vez que os índices sejam modificados, será possível verificar o grau de utilização da terra por meio de imagens de satélite e de arrecadação de imposto de circulação de bens e serviços.

Os pesquisadores dizem que a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, após adotar essa abordagem, detectou que alguns municípios cediam à pressão de ruralistas para a redução de valores, o que também foi detectado na Amazônia.

(GR)

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