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Projeto no Pará promove a conservação de onças-pintadas

Fauna Sustentável contribui com a preservação dos felinos e cuidado com o gado em Paragominas (PA)

Por anos, a pergunta feita por muitos fazendeiros em Paragominas, no sudeste do estado do Pará, foi relacionada à coexistência: será que é possível ter produção de gado e, ao mesmo tempo, coexistir com as onças que habitam as matas da região?

Por anos, a pergunta feita por muitos fazendeiros em Paragominas, no sudeste do estado do Pará, foi relacionada à coexistência: será que é possível ter produção de gado e, ao mesmo tempo, coexistir com as onças que habitam as matas da região?

De acordo com Iara Ramos, bióloga e pesquisadora de doutorado em Ecologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), a resposta a esta pergunta é sim. “O nosso trabalho é justamente trazer a solução para um problema que foi diagnosticado pelos próprios produtores de Paragominas, que informaram que as onças estavam abatendo o gado, trazendo prejuízos para eles”, comenta. Isso também resultava na morte de onças para defesa da produção.

E assim a cidade de Paragominas tornou-se protagonista de uma iniciativa pioneira no estado do Pará: o projeto Fauna Sustentável, que aborda e promove ações sobre a Coexistência Gente-Fauna no Estado. Por meio de eventos abertos ao público, palestras em entidades de ensino, oficinas e exposições, o projeto está promovendo no último ano a conscientização e implementando medidas práticas para obter resultados.

Ao todo, 24 fazendas da região foram atendidas desde 2022 e 870 pessoas foram alcançadas pelas palestras e oficinas. Antes do trabalho, havia registros de 15 abates de gado predado por onças. Desde o início das ações do projeto em parceria com os produtores, não houve registros de animais abatidos até então.

No campo, as estratégias são o manejo anti predação, para evitar danos que onças possam causar aos animais de criação; instalação de armadilhas fotográficas nas fazendas para monitorar felinos e outras espécies; e orientação dos produtores rurais sobre como evitar os danos, realizando treinamentos de coexistência com onças.

“Recebemos no treinamento várias ideias sobre como lidar com as onças: utilização de alguns fogos de artifício, colocar chocalhos nas vacas, inserir um touro na criação para proteger o rebanho, entre outros. E agora estamos muito felizes que as predações por onças pararam. Há cerca de oito meses não temos mais relatos de gado morto. É muito gratificante perceber que estamos conservando o meio ambiente. É preciso ter espaço para todos: humanos e animais”, pontua o fazendeiro Idolan Silveira, beneficiado pelo projeto.

O objetivo da coexistência é justamente um conceito mais amplo, inclusivo e abrangente que vem ganhando atenção crescente entre pesquisadores e inclui a conservação de diversas espécies. Isso porque as onças não são as únicas atendidas pelo Fauna Sustentável. As armadilhas fotográficas nas fazendas identificaram 19 espécies animais em mais de 400 registros realizados, como sussuarana, jaguatirica, gato-mourisco, tamanduá-bandeira, irara, capivara e caititu.

Impacto multilateral

Fruto do Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC na sigla em inglês), o programa também tem um viés educacional para quem decide ajudar e aprender sobre coexistência. “Mais do que os números, o projeto vai um pouco além do manejo e da assistência e vínculo com os produtores rurais. Ele traz novas possibilidades para as pessoas na equipe. Então, hoje temos alunos de graduação que pensam em se especializar em coexistência e que antes não tiveram a oportunidade de atuar em um projeto com esse foco e infraestrutura”, comemora Iara.

Desde que foi fundado, o BRC já aprovou 26 projetos de pesquisa e 60 artigos científicos foram publicados. O Fauna Sustentável é um grande exemplo da união entre agronegócio e preservação.

“Quando vamos até a fazenda e conseguimos implementar o manejo e evitar que onças e gado sejam abatidos e percebe que, antes das pessoas pensarem em atentar contra a vida de um animal, elas já mandam mensagens perguntando o que podem fazer, algo que antes não era dessa forma. Para nós isso vale muito mesmo. Com o tempo, já conseguimos perceber um discurso pró-coexistência. Isso é muito valioso, estamos criando uma nova forma de enxergar a biodiversidade”, conclui Iara Ramos.

(GR)

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