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Adnan Demachki – As mudanças climáticas e a Amazônia

Imagem: Célia Santos

O relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas que a ONU acaba de divulgar – aprovado pelos 193 países membros – não deixa margens para dúvidas: as consequências do aquecimento global não se limitam somente ao futuro, mas afetam o presente.

A saúde, os meios de subsistência – como a produção de alimentos – e a infraestrutura – como energia e transporte – estão sendo cada vez mais afetados por tempestades, secas e inundações.
Nos últimos 150 anos, a humanidade tem lançado quantidades enormes de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera por meio da queima de combustíveis fósseis, carvão, petróleo e gás natural – e esta é uma das principais causas das mudanças climáticas no planeta. A ONU diz com insistência que se o mundo não reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, enfrentará impactos inevitáveis e até irreversíveis nas próximas décadas.
Nesse cenário, a conservação da Amazônia e o fim do desmatamento ilegal são fundamentais para estabilizar o clima no mundo.
Para que isso ocorra, além do respeito às leis, é preciso reconhecer e valorizar a floresta amazônica como um ativo ambiental de importância planetária, introduzindo novos modelos e mecanismos de desenvolvimento econômico e social.
O mercado do carbono desponta como uma dessas potencialidades. O mecanismo chamado Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) que remunera aqueles que conservam as florestas, sejam comunidades, pequenos ou grandes proprietários, representa uma oportunidade para alavancar recursos a serem investidos na região. A restauração florestal é também outra frente promissora, com impactos imediatos em diversas cadeias produtivas, desde a produção de sementes, serviços, assistência técnica, máquinas e equipamentos.
Novos investimentos podem criar um ambiente favorável para o surgimento – ou fortalecimento – de uma economia baseada nos produtos da biodiversidade (a chamada bioeconomia).
Para inserir o Brasil na liderança mundial desse debate é necessário entender a importância e o papel da Amazônia nesse contexto de mudanças climáticas, num mundo complexo e hiper conectado.
A pandemia veio mostrar o quanto somos dependentes e vinculados uns aos outros. E como alguns problemas precisam ser enfrentados globalmente, pois o vírus não reconhece fronteiras.
Vivemos momentos de apreensão mundial em razão da guerra envolvendo a Rússia e a Ucrânia, quando acreditávamos que os países civilizados já haviam apreendido com a história e desistido de políticas expansionistas e unilaterais, prestigiando a diplomacia em vez da selvageria.
Os fatos recentes mostram o quanto ainda precisamos avançar, sobretudo diante do iminente desafio de enfrentar a “guerra climática”, este provavelmente o maior dilema global a ser enfrentado pela espécie humana e pelo qual não passaremos sem profundas mudanças em nossas relações sociais e internacionais, pois tão importante quanto a mudança da matriz energética ou dos modelos econômicos é a mudança da cultura civilizatória, a partir da clara compreensão de que habitamos todos um só planeta e que, nesta condição, somos passageiros do mesmo destino.
Que possamos, a partir desta perspectiva, implementar na Amazônia iniciativas adequadas a estes novos tempos.
Por Adnan Demachki
*Adnan Demachki é Advogado, ex prefeito de Paragominas (PA), ganhador do Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente, em reconhecimento pelo projeto “Paragominas Município Verde” desenvolvido na cidade e replicado para todo o estado do Pará e muitos municípios do Mato Grosso, Rondônia e Amazonas. Em razão da multiplicação do seu trabalho na área ambiental, a Revista Época em 2012, o incluiu entre as 100 personalidades mais influentes do País.
O projeto “Paragominas Município Verde”, foi homenageado pelo Fórum Mundial em Oxford – Inglaterra em março de 2012.

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