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Médica é acusada de racismo contra paciente: ‘Disse que mulheres pretas têm mais probabilidade de ter cheiro forte nas partes íntimas’

O Fantástico revela uma denúncia de racismo durante uma consulta médica, no Rio de Janeiro. Uma ginecologista disse à paciente, uma jovem de 19 anos, que a maioria das mulheres negras tem cheiro forte nas partes íntimas. Uma afirmação preconceituosa e equivocada. A médica virou ré e está respondendo à Justiça.

No início do ano passado, Luana levou a afilhada, de 19 anos, negra, em sua ginecologista de confiança pra colocação de um DIU. A médica é Helena Malzac, atende na Zona Sul do Rio de Janeiro e a consulta era particular.

A jovem não quis aparecer porque ainda sofre com o que aconteceu. ”Ela disse que mulheres pretas têm mais probabilidade de ter um cheiro forte nas partes íntimas. De início eu me senti vulnerável, fiquei no meu canto”, conta a jovem.

“Na consulta comecei a ouvir que as pessoas negras tinham odores diferentes e aí veio meio um estranhamento. Comecei a gravar essa conversa porque, a partir desse estranhamento, eu entendi que não se tratava de uma informação útil para aquele momento”, relata Luana.

A gravação da conversa

Médica Helena Malzac: Muito forte, aqui, oh. Quando você sua, o cheiro piora. É a mesma coisa do sovaco. É o mesmo cheiro, é um cheiro forte, mas é por causa da cor e do pelo. Você vai ser a vida inteira assim, então, você tem que se preocupar com isso, tá?

Luana: Mas quando você fala da cor e do pelo, você tá dizendo que isso só acontece em pessoas negras?

Médica Helena Malzac: É, é muito comum. Não é 90%, mas a gente coloca uns 70%.

Luana: Então, tipo, tem a ver com melanina?

Médica Helena Malzac: Tem a ver com a melanina também.

Melanina é o pigmento que dá cor à pele, aos pelos e aos olhos. Na pele negra, a quantidade de melanina é maior.

“Quando a médica saiu falei: ‘você percebeu o que aconteceu?’ Aquele argumento que a médica nos deu foi algo racista e eu preciso que você tenha noção disso”, conta Luana.

Caso na Justiça

Luana e a afilhada foram à delegacia e registraram um Boletim de Ocorrência. O Ministério Público denunciou a doutora Helena pelo crime de racismo, porque, além da jovem, a médica se referiu ao conjunto de mulheres negras. A ginecologista agora é ré.

Depois dessa consulta, a menina nunca mais conseguiu voltar a um consultório de ginecologia.

“Eu tenho receio de me consultar com outras ginecologistas, porque tem a possibilidade de acontecer novamente. Esse medo permanece em mim”, reforça a jovem.O Fantástico teve acesso aos áudios da primeira audiência com o juiz, que aconteceu no fim do mês passado. Neles, a médica confirma o que disse no consultório.

O que diz a médica

O Fantástico tentou falar com a médica Helena Malzac. Deixamos nossos contatos. Também procuramos advogados da ginecologista. Mas ninguém nos deu retorno.

Em defesa prévia apresentada à Justiça em janeiro, o advogado da médica afirmou que “em nenhum momento, durante o procedimento médico, ocorreu a vontade de discriminar a suposta vítima”. Relatou também que “o objetivo do comentário da ré foi estrito e visando exclusivamente tratar o mau cheiro com forte odor na região das virilhas”.

O advogado disse também que a médica “sugeriu depilar os pelos pubianos, o que nada tem a ver com discriminação.” E que a mãe da doutora Helena “é filha de norte americano negro casado com a sua avó de nacionalidade portuguesa, ariana com olhos na cor azul. Neste ponto, – continua o advogado – “mais uma vez, se comprova a ausência de dolo, porquanto a ré é filha e neta de negros e, inclusive, por tal razão pode ser considerada da raça negra.”

(Fantástico)

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