Governo flexibiliza regras para a produção de vitela
Instrução Normativa permite alimentar bezerros com grãos e suplementos
A criação de bovinos para produção de carne de vitela – com abate até um ano de idade – passa a contar com normas mais flexíveis a partir deste ano.
De acordo com a Instrução Normativa nº 2, publicada na segunda-feira (27) no Diário Oficial da União, a alimentação desses animais poderá ser suplementada com grãos, concentrados, suplementos e fibras.
Até então, para receber a nomenclatura de “vitela” ou “vitelo”, a lei exigia que esses bezerros fossem alimentados exclusivamente com leite e seus derivados.
“É uma mudança de nomenclatura que parece algo simples, mas que tem impactos para a sociedade como um todo”, explica o zootecnista e analista de agronegócio da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Wallison Lara Fonseca.
Ele argumenta que a possibilidade de alimentar os bezerros com grãos e suplementação contribui para elevar a produtividade, aumentando o volume de carne produzida por hectare ao ano. “Só vem a beneficiar o sistema produtivo e o ecossistema como um todo”, observa o zootecnista.
Fonseca lembra que a produção brasileira de carne de vitela, embora crescente, ainda é pequena e focada em nichos de mercado, como redes de churrascaria e açougues específicos. Concentrados em propriedades de pecuária leiteira, os bezerros usados na produção desse tipo de corte costumam ser animais machos que, na atividade láctea, seriam descartados.
“Esses animais são majoritariamente de fazendas leiteiras e que não tem função na atividade. Como a genética e a aptidão deles é leiteira, eles não têm o mesmo desempenho que as raças zebuínas e taurinas de corte”, explica o analista Faemg, ao destacar que a Instrução Normativa permite ao produtor brasileiro traçar estratégias para intensificar o ciclo dos animais, obtendo uma fonte de renda extra sem comprometer sua atividade principal.
Com a mudança, acredita-se que a cadeia do vitelo no Brasil ganhe mais dinamismo. “É um passo importante para a cadeia do vitelo. Para quem já faz ou já trabalha com esse tipo de produtor é um ganho e tanto”, comenta Maychel Borges, coordenador do Programa Carne Angus Certificada.
A nova legislação também deve contribuir para a gestão do produtor de leite, que passa a ter meios de organizar melhor as duas atividades. “A moeda de troca numa fazenda de leite é o leite. Se o produtor destina a matéria-prima para a produção de carne, compromete seu fluxo de caixa”, observa o analista da FAEMG.
Fonseca destaca que, enquanto o ganho de peso médio de um animal alimentado com grãos seja de 2 quilos ao dia, dependendo da raça e da genética, entre bezerros leiteiros destinados a produção de vitela essa taxa é de 1,2 quilo ao dia.
“Essa é uma oportunidade de o produtor de leite ter em sua fazenda uma fonte alternativa de renda, tendo em vista que a legislação, com essa alteração, permite melhores estratégias para produzir esses animais”, conclui o zootecnista.
(Revista Globo Rural)